Conduta excessivamente materializada
A libertação do ser de algemas teológicas certamente patrocinaria, ao longo do tempo, alforria de grilhões religiosos e da dependência de líderes carismáticos, permitindo ao deambulante da evolução fazer escolhas, interpretar textos e tomar atitudes maduras, por elas respondendo de maneira consciente.
Em um momento muito grave da trajetória humana na Terra, o homem enfrenta um período de esplendor tecnológico que o beneficia na área da saúde. Não obstante os conflitos armados que, periodicamente ensanguentam as paisagens da sociedade, os avanços nesse território se fazem palpáveis, beneficiando milhões de indivíduos.
Cirurgias corretivas, colocando no lugar de órgãos deficitários ou peças orgânicas desgastadas próteses de titânio ou de plástico, permitindo a continuidade da existência sem maiores sobressaltos.
Relógios inteligentes, os smartwatches, monitoram diversos aspectos da corporalidade, antecipando por sinais certas deficiências que podem ser fatais se não corrigidas a tempo.
A nanotecnologia dilata a cientistas e pesquisadores um campo vasto de aplicações, onde minúsculos agentes de natureza robótica penetrariam o campo orgânico, levando pela corrente sanguínea princípios ativos capazes de eliminar o foco patogênico na sua intimidade profunda.
As cirurgias oculares permitiram a milhões de pessoas se libertarem da cegueira que as lançariam na escuridão completa. Equipamentos auditivos minúsculos devolvem ao ser a acústica perdida. Reimplante de órgãos decepados por acidentes de trabalho ou do trânsito facultam a milhares de pessoas a retomada das atividades profissionais, dentro de limitações possíveis.
Inegável reconhecer o avanço admirável nesse campo tão importante, qual seja a manutenção ou conserto das peças desgastadas do corpo, ferramenta da alma para estágio nos círculos evolutivos da matéria.
Entretanto, a essência vem sofrendo lastimável abandono, onde o investimento não corresponde ao mesmo zelo que se aplica ao veículo carnal.
Numa sociedade que se ufana das incontáveis religiões, a conduta de muitos se mostra excessivamente materializada. O discurso destoa da prática. O alvo não é a espiritualização do ser, para que se projete na sua autonomia emocional e psíquica, aceitando com maturidade a realidade dual da vida, a compreender o berço como porta de entrada e o túmulo como umbral de saída, mas nunca interrupção da vida ou projeção do ser em lugares estanques, depois da morte biológica.
A libertação do ser de algemas teológicas certamente patrocinaria, ao longo do tempo, alforria de grilhões religiosos e da dependência de líderes carismáticos, permitindo ao deambulante da evolução fazer escolhas, interpretar textos e tomar atitudes maduras, por elas respondendo de maneira consciente.
Os portais do inferno mitológico seriam cerrados, cada um percebendo que tais instâncias são departamentos íntimos, onde a prática do bem e os gestos de solidariedade edificam o céu íntimo em cada um, ao tempo que a conduta depravada ou promíscua ergue no país interior suas geenas de aflição e agonias.
Ao lado de uma saúde corporal, não se pode tentar ocultar o sol com uma bateia, divorciando esta da harmonia mental e emocional, capítulos de urgência na atual sociedade, profundamente enferma. Corpos sarados, almas atrofiadas.
Institutos dedicados à reabilitação de organismos deficitários, mas escassas fundações onde a alma seja objeto de estudos, onde filosofia e ciência, religião e arte possam se unir em favor de uma cultura holística, plural e diversificada, abolindo preconceitos e dilatando fronteiras.
Há mais de vinte séculos, um jovem galileu chamou a atenção do seu povo para a ousadia de Sua doutrina. Em um meio misógino, exaltou a mulher, com ênfase nas mais sofridas. Conviveu com equivocados e corruptos e não fez julgamento de condutas, se preocupando tão somente em lecionar o amor na sua mais alta expressão. Em diversas circunstâncias, interferiu na saúde alheia, patrocinando a reconquista da saúde, sem isentar o ser de novas doenças ou blindar o atendido contra a foice da morte.
Atendeu estômagos atormentados pela canícula da fome, mas situou o pão celeste acima do trigo do mundo.
Em apenas três anos de messianato, alterou vidas, mudou o curso da história e nunca mais foi esquecido.
Se tens notícias D'Ele, que fazes dessas lembranças? Se a biografia do Homem de Nazaré te sensibilizou, qual a importância D'Ele em teu mundo interior?
O estudas tão somente ou tenciona viver-lhe as lições, pagando o preço numa sociedade que o proclama Senhor e Mestre, mas nem sempre O segue?
As interrogações poderiam se multiplicar ao infinito, te arrebatando para os vastos campos da meditação e do silêncio interior, oásis onde O encontrarás em majestoso convívio com o Pai, sendo até hoje a maior e mais segura ponte entre Deus e os filhos da Criação Divina, ponte essa que terás de atravessar.
Quando?
A decisão é tua.
Marta
Salvador, 18.01.2024