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O que é o espiritismo

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O QUE É O ESPIRITISMO

INTRODUÇÃO
Muito se fala do espiritismo, mas poucos sabem o que realmente se trata ou o que é. A maioria não consegue exatamente definir e confunde o espiritismo apenas com as manifestações de espíritos. Alguns dizem que ser espírita é simplesmente crer na existência de espíritos e nada mais. É comum assistirmos a filmes e até novelas em que o espiritismo é descaracterizado em sua essência e conteúdo para mostrar situações que venham a prender o expectador ao espetáculo. Geralmente com cenas fantasiosas e contrárias ao que de fato o espiritismo prega. Muitas vezes chegam ao absurdo de dizer que o espiritismo é coisa prejudicial e do mal e orientam que se afaste dele e das pessoas que se dizem espíritas.
Mas afinal, o que é o espiritismo? Como podemos defini-lo, para que as pessoas entendam e façam um julgamento adequado?
 
HISTÓRIA DO ESPIRITISMO
Para melhor definir o que é o espiritismo é importante recorrer a história e ver como ele nasceu e se desenvolveu. Para começar, o espiritismo surgiu no século XIX a partir da observação das chamadas “mesas girantes” (1). Na França, neste período, as pessoas se divertiam com o saltitar das mesas que se elevavam no ar, giravam e davam pancadas. Eram mesas de três pés que por serem mais leves davam saltos e batiam pancadas com os pés no chão. E diziam que as mesas eram inteligentes pois respondiam às perguntas, geralmente triviais, com batidas que eram associadas ao alfabeto. As pessoas passaram a conversar com as mesas adotando o método de converter o número de pancadas pelas letras do alfabeto. E formavam palavras e frases. E as mesas respondiam. Não se sabia a causa destas mesas girantes e como este fenômeno acontecia. As próprias mesas posteriormente indicaram um método de comunicação mais fácil: “toma-lhe no quarto vizinho a cesta; amarra-lhe um lápis; coloca-a sobre o papel; põe os dedos na borda”. Logo a cesta se punha em movimento e escrevia de forma clara.  As cestas começaram a escrever palavras e frases. Verificou-se após que não era necessário a cesta, mas apenas uma pessoa que segurando o lápis com sua mão, esta passava a escrever sob a influência de algo ainda estranho para todos. Foi identificado que somente havia a comunicação quando uma pessoa dotada de uma faculdade especial se fazia presente. Depois essa pessoa foi chamada médium e a faculdade de mediunidade.
 
ALLAN KARDEC
Leon Hyypolite Denizard Rivail, nasceu em 1804 na França. Foi pedagogo e escreveu várias obras educacionais antes de se tornar o Allan Kardec da doutrina espírita. Foi convidado em 1855, aos 51 anos de idade, por um amigo para observar o fenômeno das mesas girantes, chegando à seguinte conclusão; “Entrevi, oculto naquelas futilidades aparentes, e entre aqueles fenômenos, de que se fazia um passatempo, algo de muito sério, talvez a revelação de uma nova lei, que fiz propósito de descobrir” (2). Partindo de que todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente, Rivail, de observação em observação, chegou à compreensão que a causa devia tratar-se de um ser invisível , ao qual deu o nome de espírito e concluiu que nada mais era que a alma dos mortos que continuavam vivos após a morte. Observou das respostas que o homem não era só corpo material, mas tinha uma alma que após a morte mantinha sua individualidade e que esses espíritos eram de várias condições de sabedoria e que as suas respostas dependiam do grau de conhecimento de cada um.
Rivail então procurou descobrir as leis deste mundo invisível. Para isso passou a frequentar as reuniões com os espíritos munidos de perguntas previamente elaboradas tendo como garantia que o “ensino dos espíritos está na concordância das revelações feitas através de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros e em diversos lugares” (3). Diz Rivail “Na nossa posição, recebendo as comunicações de cerca de mil centros espiritas sérios, espalhados pelos mais diversos pontos do globo, estamos em condições de ver quais os princípios sobre que essa concordância se estabelece” (...) Esse controle universal é uma garantia para a unidade futura do espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias” diz Rivail (4). E dessa forma pelo método experimental observando os fatos e as comunicações, comparando e julgando que ele chegou à elaboração da doutrina espírita que na realidade é a doutrina segundo o ensino dos espíritos com o concurso de vários médiuns recebidos e coordenados pelo Rivail. Professor Rivail, depois conhecido como Kardec, é denominado o “codificador da doutrina espírita” pois ele organizou as ideias e comunicações dos espíritos, as condensou e sistematizou em um corpo de doutrina.
 
SURGIMENTO DA CODIFICAÇÃO
Surgiu assim em 1857 O Livro dos Espíritos, em 1861 o Livro dos Médiuns, em 1864 O Evangelho Segundo o Espiritismo, em 1865 O Céu e o Inferno e em 1868 A Gênese.
Ele lançou outras obras tais como O que é o Espiritismo, O espiritismo em sua expressão mais simples, Viagem Espírita e a Revista Espírita fascículo mensal de 1858 a 1869 até a sua morte. Para lançamento destes livros Rivail utilizou conforme dito, o pseudônimo de Allan Kardec, nome que ele teve em uma reencarnação como Celta entre os druidas e que lhe foi informado por um espírito familiar. Ele adotou este nome para diferenciar a sua carreira espírita de seus trabalhos e livros publicados como pedagogo.
Como diz Kardec em A Gênese “A doutrina espírita não foi ditada completa e nem imposta à crença cega porque ela é deduzida, pelo trabalho do homem , da observação dos fatos que os espíritos colocam diante de seus olhos , assim como das instruções que dão , instruções que ele estuda , comenta , compara a fim de ele mesmo extrair suas consequências e aplicações”(...) Em resumo o que caracteriza a revelação espírita é o fato de ser de origem divina, de a iniciativa pertencer aos espíritos e de sua elaboração ser fruto do trabalho do homem”(5). É, pois, fato dizer que o espiritismo é uma Ciência de Observação, pois aplica o método experimental não estabelecendo nenhuma teoria preconcebida.
Para alguns o espiritismo é considerado como a terceira grande revelação, vindo após a primeira revelação de Moises e a segunda de Cristo. Também é dito ser o consolador prometido de Jesus quando este disse “Muitas das coisas que vos digo ainda não podeis compreender, e muitas outras teria de dizer, mas não compreenderás; por isso vos falo por parábolas; todavia mais tarde eu vos enviarei o Consolador, o Espírito da Verdade que restabelecerá todas as coisas e vô-las explicará todas” (6).
 
DEFINIÇÃO
Mas como Kardec define O que é o Espiritismo? Vejamos:
“O espiritismo é ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os espíritos; como filosofia, ele compreende todas as consequências morais que decorrem dessas relações”.
Portanto Kardec estabelece que o espiritismo é uma ciência e uma doutrina filosófica e não uma religião. No livro dos espíritos ele diz que o espiritismo é uma filosofia espiritualista. Já em obras póstumas ele justifica porque não entende o espiritismo como uma religião. Vejamos:
“O espiritismo é uma doutrina filosófica, que tem consequências religiosas, como toda filosofia espiritualista; pelo que toca forçosamente nas bases fundamentais de todas as religiões; Deus, a alma, a vida futura. Não é ele, porém uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templo, e, entre os adeptos nenhum tomou nem recebeu o título de sacerdote ou papa”.
Como vemos apesar do espiritismo não ser uma religião formal com dogmas e hierarquias, ele tem um caráter de religiosidade ou espiritualidade pois nos liga a essência divina ou criador. É um sentimento de pertencer a algo maior, um ser superior, todo amor e bondade. É esse sentimento íntimo que o espiritismo nos leva a ter e daí podemos dizer que nesta condição ele é uma religião.
Diz Kardec que o espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural e respeita toda convicção sincera e pede reciprocidade. Combate o princípio da fé cega, que impõe ao homem a abdicação de seu próprio juízo, reconhecendo não ter fundamento a fé imposta. O espiritismo não se impõe a ninguém, quer ser aceito livremente e acolhe os que o procuram voluntariamente.
Também em “A Gênese”, Kardec diz que o espiritismo como toda ciência de observação é essencialmente progressiva e cita “O Espiritismo estabelece como princípio absoluto somente o que seja demonstrado por evidência, ou o que seja deduzido logicamente da observação” (...). Avançando com o progresso, o espiritismo jamais será superado, pois, se novas descobertas demonstrarem estar em erro em um determinado ponto, ele se modificará sobre esse ponto. Se uma nova verdade se revela, ele a aceita, (9)

 

PRINCÍPIOS BÁSICOS DA DOUTRINA ESPÍRITA

O adepto da doutrina é chamado espírita pois aceita os seus princípios básicos e os aplica.
Mas quais são os princípios da doutrina espírita? Vejamos:
A existência de Deus como inteligência suprema criador de todas as coisas.
A existência do espírito imortal conservando sua individualidade após a morte. Nós somos espíritos encarnados. Após a morte seremos espíritos sem o corpo físico, mas com o corpo espiritual, vivendo no plano espiritual.
A reencarnação como processo natural da lei de progresso. Reencarnamos tantas vezes necessários para nosso aprendizado moral e intelectual.
A comunicação dos espíritos entre os planos espiritual e material através da mediunidade.
A evolução desde espíritos simples e ignorantes até atingir a perfeição relativa.
A existência de muitas moradas no Universo. A terra é apenas uma destas moradas.
A moral de Cristo como conduta do homem de bem.
A doutrina espírita nos apresenta Deus como soberanamente bom, justo e misericordioso e não um Deus vingativo e violento. Kardec explica “Os espíritos foram criados simples e ignorantes, ou seja, sem conhecimento ou consciência do bem e do mal, mas aptos a adquirir tudo o que lhe falta, o que fazem pelo trabalho. O objetivo, que é o mesmo para todos, é a perfeição, que alcançam mais ou menos rapidamente em virtude do seu livre arbítrio e em razão dos seus esforços. Todos tem a mesma etapa para percorrer, o mesmo trabalho a realizar. Deus não contempla uns com mais que outros, porquanto todos são seus filhos e, sendo justo, não tem preferência por ninguém., dizendo-lhe apenas: Eis a lei que deve ser a vossa regra de conduta. Somente ela pode lhe levar ao objetivo. Sois livres para obedecê-la ou infringi-la, e sereis, portanto, árbitros de vosso próprio destino” (10).
No livro Céu e Inferno diz Kardec; “O espiritismo nos esclarece que o sofrimento é inerente a imperfeição, pois sofre-se tanto tempo quanto se é imperfeito, assim como sofremos de uma doença enquanto não estejamos curados. Assim é que enquanto o homem for orgulhoso, sofrerá as consequências do orgulho, enquanto for egoísta sofrerá as consequências do egoísmo” (11). Ou seja, a cada um conforme suas obras. Nós temos autonomia para comandar as nossas vidas, cabendo a nós construirmos nosso futuro pois somos o árbitro e juízes de nossos próprios atos. Cabe a nós nossa felicidade ou desdita. Estamos na terra para aprender e evoluir e não para sofrer. O sofrimento e a dor decorre de nossas atitudes equivocadas infringindo as leis divinas que são de amor e misericórdia.
 
ESPIRITISMO E MOVIMENTO ESPÍRITA
Como alerta e advertência, temos que diferenciar “Espiritismo” de “Movimento Espírita”. Espiritismo é a doutrina codificada por Kardec com seus princípios filosóficos, éticos e morais bem definidos nas obras básicas e nas leis naturais observadas. Já o movimento espírita é o espiritismo impregnado com a cultura, crenças e tradições dos frequentadores e das casas espiritas localizadas nas diversas regiões com seu “caldo” cultural. Para se ter uma ideia da importância de diferenciar o movimento espírita do espiritismo em si, vejamos o que Leon Denis coloca na introdução do seu livro “No Invisível”.
“O Espiritismo será o que o fizerem os homens. Ao contato da humanidade as mais altas verdades as vezes se desnaturam e obscurecem. Podem constituir-se uma fonte de abusos. A gota da chuva, conforme o local onde cai, continua sendo pérola ou se transforma em lodo” (12).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalmente, o espiritismo nos tempos atuais tem papel fundamental pois além de ser consolador é também transformador. Nos faz conhecer novas leis da natureza eliminando o sobrenatural e a superstição pois tudo acontece devido às leis imutáveis. Destrói com o fanatismo a fé cega e a obediência passiva. Estimula o sentimento de caridade, fraternidade, solidariedade, tolerância e combate o orgulho, o egoísmo, a inveja e a hipocrisia.

 

Referência bibliográfica:

  1. WANTUIL, Zeus. As mesas girantes e o espiritismo. São Paulo: Editora FEB, 2012. 
  2. KARDEC, Allan. Obras póstumas. 2. ed. São Paulo: Editora FEB, 2021.
  3. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2013
  4. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2013.
  5. KARDEC, Allan. A gênese. 2. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2019.
  6. KARDEC, Allan. A gênese. 2. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2019.
  7. KARDEC, Allan. O que é o espiritismo. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2019.
  8. Obras Póstumas – Kardec – Breve resposta aos detratores.
  9. KARDEC, Allan. A gênese. 2. ed. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2019
  10. KARDEC, Allan. O céu e o inferno. 1. ed. São Paulo: FEAL, 2021
  11. KARDEC, Allan. O céu e o inferno. 1. ed. São Paulo: FEAL, 2021
  12. DENIS, Léon. No invisível. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2014
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